Eufemismo é uma figura de linguagem que consiste em tornar mais leve e palatável o…
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Para que temos problemas?
Para que temos problemas?
Quanto mais convivo com professores, menos entendo o que eles querem e mais compreendo por que nossos alunos transformam qualquer probleminha numa grande tempestade em copo d’água. A geração mimimi que o diga. Tenho para mim que quando alguém escolhe a profissão de ensinar, no seu exame admissional de sanidade, recebe uma dose de “tumultuol coitadinol”, um medicamento muito forte que faz todos que o recebem passarem a sofrer de pânico por qualquer coisinha e também a se candidatarem a uma vaga de coitado profissional, assim que ela surja.
Eu entendo que a nossa profissão tenha problemas, mas fico pensando qual será a que não tem nenhum? Em que área de atuação nós encontraremos somente um mar de rosas? Penso ainda mais: como seria a vida sem nenhuma espécie de problemas?
Viver é uma grande aventura e resolver o que fazer diante das dificuldades, uma grande injeção de adrenalina, tão necessária como o veneno antimonotonia, de que falava Cazuza. O mais lindo de conseguirmos sair de situações embaraçosas é perceber quanta capacidade o ser humano tem, quando se dá conta de sua magnitude, é dimensionar qual o tamanho de nossa energia potencial.
Quero dividir com todos uma linda história de inteligência e determinação, vencendo o desânimo, a falta de coragem e a escuridão que de vez em quando a vida nos impõe. Como todas as histórias que sempre conto, não tenho certeza, nem interesse de que seja verdadeira, quero apenas que seja boa e exemplificativa da tese que defendo. A pior história é sempre melhor do que o melhor silêncio abobado.
Um velho vivia sozinho numa linda casinha no Estado da Minnesota, nos Estados Unidos. Ele queria cavar seu jardim, preparar a terra para as novas plantas da estação que estava por iniciar, mas era um trabalho muito pesado para que realizasse sozinho. Seu único filho, que normalmente o ajudava nessa tarefa todos os anos, estava na prisão, acusado de homicídio.
O velho então escreveu ao rapaz lamentando-se da situação, maldizendo a sua sorte e reclamando do fardo pesado que a vida lhe havia dado. Dizia a carta: “Querido filho, estou triste porque, ao que parece, não vou poder plantar meu jardim este ano. Detesto não poder fazê-lo, porque a sua mãe adorava a época do plantio após o inverno, o quintal era seu paraíso.
Eu me sinto velho e cansado demais para revirar a terra sozinho. Se você estivesse aqui, eu não teria esse problema, mas sei que você não pode me ajudar com o jardim, pois está na prisão e sofro muito por nós dois. Com amor, Papai”.
Pouco depois, o pai recebeu, em resposta à sua carta, um telegrama enigmático, porém curto e grosso: “Pelo amor de Deus, papai, não escave o jardim! Foi lá que escondi os corpos.” O pai ficou sem entender direito o que acabara de ler e mais estupefato ficou quando, por volta das quatro horas da manhã do dia seguinte ao telegrama, uma dúzia de agentes do FBI e mais uma boa quantidade de policiais estaduais apareceram e começaram a escavar todo o jardim sem qualquer explicação e sem, no entanto, encontrar nenhum corpo. Foram embora tão depressa quanto chegaram.
Ainda assustado, o velho escreveu nova carta ao filho contando-lhe o que acontecera. Ao que o garoto respondeu com outro telegrama: “Agora pode plantar o seu jardim, papai. Isso é o máximo que eu, no momento, de onde estou, pude fazer por você e pela memória de mamãe.” Preciso contar mais?
Na nossa vida, metade das coisas impossíveis só o são porque alguém nos preveniu que eram ou que seriam.
Se não nos avisarem dessas impossibilidades, muitas coisas se resolverão de maneira muito mais fácil do que podemos imaginar. Boa parte dos tão proclamados problemas da educação, pública e privada, moram mais na cabeça de diretores titubeantes, professores perdidos, funcionários descompromissados e escolas fracas, do que na realidade do cotidiano escolar. E isso, é claro, vai ter reflexos nas vidas profissionais desses estudantes.
Não bastassem os verdadeiros problemas, ainda somos bombardeados o tempo todo pela lógica burra do quanto pior, melhor, que ronda as nossas vidas pessoal e profissional.
Todos nós temos problemas, eles fazem parte da vida de qualquer profissional (qualquer mesmo), são inevitáveis, renováveis e, como diria o poeta Paulo Leminski, têm família grande e aos domingos saem a passear, o problema, sua mulher e os pequenos probleminhas. Mas, se de um lado é impossível viver sem eles, de outro, ser por eles derrotados é apenas uma questão de escolha.
As pessoas precisam se lembrar sempre que faz parte de nossa condição humana, trabalhar para rever o passado, compreender o presente e projetar futuro, a preparação delas para as situações-problema com as quais eternamente irão se confrontar é imperativa. O mundo não nos deve nada, ao contrário ele nos cobra o tempo todo por algo que nem sequer entendemos direito.
Se nós como profissionais damos amplitude exagerada a qualquer bobagem que nos é apresentada, como poderemos nos preparar para os dramas de grande dimensão real que vão com certeza aparecer? Se não pudermos dar flores, que possamos valer como folhas; se isso nos for negado, seremos galhos altivos; se nem assim nos deixarem, seremos troncos ou raízes ou simplesmente terra e não haverá cadeia alguma que nos impeça de permitirmos que nos cavem e nos preparem para a próxima primavera que, com certeza, virá.
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