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Nailor Marques Jr

O que são vidas pública e privada? (parte 2)

Está mais do que na hora de as escolas públicas e particulares, de todos os níveis, criarem um espaço em seus currículos para a discussão fundamental sobre o que é de interesse de todos e do que apenas a poucos diz respeito. É preciso que todos sejam envolvidos, no que me parece, com a questão mais fundamental desse início de século XXI. As pessoas precisam ser ensinadas de novo que não podem submeter o grupo a que pertencem a seus caprichos pessoais. A vida em sociedade está ficando cada vez mais insuportável, justamente porque ninguém quer mais respeitar as fronteiras entre os interesses.

Adolescentes e crianças passaram a dominar seus pais; alunos ditam as leis para professores e diretores e acabam por reger suas escolas; empregados querem determinar os rumos de suas empresas; delinquentes estabelecem as regras em determinadas comunidades ou nos presídios e assim por diante. Muitos dos valores sociais foram invertidos e os rabos começaram a abanar os cachorros. Onde todo mundo pensa que manda, obviamente ninguém manda e menos ainda obedecem.

Até entre os animais mais selvagens há regras de convivência, há quem mande e quem obedeça e isso é feito para a preservação da espécie e todos acabam por aceitar os ditames ou devem deixar aquela comunidade. Ocorre que animais irracionais não podem ser convencidos (ou melhor, persuadidos) a aceitar as regras de forma lógica, a submeter-se a elas porque elas são necessárias à organização mínima desejável para o progresso e permanência do grupo em que estão. Eles aceitam e ponto.

Montesquieu no seu maravilhoso O Espírito das Leis, no capítulo quinto, já apontava para o grande equívoco que havia se transformado a tão almejada igualdade extrema. Ela não existe na essência. Condições iguais, não quer dizer pessoas e potencialidades iguais. Um grupo, para sobreviver como sociedade, precisa que regras sejam criadas, princípios respeitados e valores fortalecidos, para que alguns entendam em que momento seus anseios pessoais devem se vergar aos do grupo e em que momento o grupo precisa frear sua vontade geral de invadir a vida particular.

Se todos nascêssemos dotados de bom senso, isso seria totalmente dispensável, mas sabemos que esse é artigo escasso, então o que não é nato, mas necessário, deve ser ensinado. A escola é esse lugar, até para que ela própria possa perdurar, já que pela desordem e pelo descaso com os valores eternos (respeito, dignidade, ética, amor, humildade, etc.) ela está em rota suicida, rota de colisão com um buraco negro sem precedentes na História. O pior é que esse pequeno vácuo criado nas escolas e nas famílias sem regras, princípios e valores está se espalhando pelo mundo profissional, por isso as pessoas sabem na ponta da língua seus direitos, mas não conhecem seus deveres. Por isso, tantas pessoas vêm sendo substituídas por máquinas.

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