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Nailor Marques Jr

O que são vidas pública e privada? (parte 1)

É um tormento. Sim, é um tormento. Não sei se foi sempre assim ou apenas de uns tempos para cá. O certo é que venho sendo assombrado pela ideia obsessiva de distinguir a vida pública da privada, os interesses individuais dos coletivos, o que diz respeito a cada um e o que é concernente a todos. Sei que o assunto não é novo, mas sei também que ele não está posto da forma como deveria, porque umas pessoas estão obrigando outras a se curvar a propósitos que são totalmente particulares. Quanto da nossa vida interessa apenas a nós mesmos e quanto dela diz respeito aos outros? Qual parcela daquilo que fazemos ou pensamos está restrita à nossa própria vida ou ao círculo muito pequeno de abrangência que ela tem? Violam a nossa privacidade ou nós mesmo nos oferecemos aos leões das redes sociais?

Essas perguntas são necessárias e não são vazias como podem parecer numa primeira análise. Público vem do latim publicu que quer dizer relativo ou concernente ao povo, isto é, de todo mundo, da coletividade ou do seu interesse; privado, por sua vez, vem também do latim privatu, que significa particular, de interesse não público, expressão usada, portanto, em oposição à primeira. Olhando os termos assim, pela ótica da semântica, tudo parece tão simples, e deveria ser.

No entanto, quando esses sentidos são projetados para a vida em comunidade tenho a impressão de que as pessoas ou se esquecem do sentido primeiro das palavras ou fingem que se esquecem. Quando isso acontece estabelece-se o caos social do qual estamos reféns. A vida passa a valer não pelo interesse de todos (ou da maioria) sobre os indivíduos, mas no sentido contrário. E não falo aqui de política não (que no nosso caso é um antro de perdição). Falo das mínimas coisas cotidianas que precisam urgentemente ser postas em discussão.

O que é tormentoso ainda é que situações meramente privadas, passaram a ser mais destacadas do que as questões efetivamente públicas. Estar no Big Brother é mais importante do que acompanhar os desmandos políticos; é mais interessante o último namorado da atriz, saber que traiu quem no mundo sertanejo ou quem se revelou gay, do que se a tabela do imposto de renda está defasada em mais de 80%. Isso é assim, porque os primeiros interesses são tolos, rasos e sem consequências e, justo por isso, por isso preenchem o vazio existencial que cada vez mais as pessoas têm. Pessoas vazias e interessadas só mundinho privado alheio estudam e trabalham ao sabor dos ventos, quando parar de ventar, podem não ter onde se agarrar. Vale a reflexão. Vale o temor.

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