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O que é resiliência?

Eu sempre tive boa memória, esse é um recurso que me deu muitas vantagens competitivas, mas que no começo me criou um aparente problema. Quando eu tinha 14 anos e cursava o primeiro ano do ensino médio, sem querer acabei declamando de memória um longo poema de Vinicius de Moraes, isso impressionou a todos e a minha professora me convocou a me apresentar, representando a sala, num evento no salão nobre da escola. Eu era muito tímido, creio que ainda sou, mas não esperava que no dia, na frente de todos, eu fosse desmaiar e foi justo o que aconteceu.

Nos dias seguintes eu virei a piada da escola, todos queriam rir um pouco do garoto que havia desmaiado na frente de uma turma inteira. Virei o mico da semana e, talvez, do mês inteiro. No entanto, aconteceu algo inusitado: no lugar de eu me sentir a pior das criaturas e dizer para mim mesmo que jamais subiria num palco outra vez, aconteceu exatamente o oposto.

Eu me disse em tom de desafio: “Nunca mais eu desmaio na frente de ninguém. Na primeira oportunidade que tiver, volto lá e mostro que não sou o bobo covarde que estão dizendo”. Como o técnico Zagalo, eu pensei: “Vocês vão ter de me engolir”.

Por que eu narrei esse episódio de minha vida escolar aqui? Porque sem saber eu estava sendo naquele momento resiliente, qualidade tão buscada hoje nos profissionais do século XXI. Minha atitude, contrariando as regras, opondo-se ao esperado, demonstrou a todos e a mim mesmo que eu era feito de aço especial, que não trincava, nem se partia com qualquer simples parede contra a qual se chocasse.

Aços especiais não nascem assim, eles se forjam com o tempo à custa de muito fogo, marretada e água gelada. A compreensão e a absorção das forjas necessárias faz de uma adaga a companheira fiel de um samurai vencedor.

Sem a existência da característica da resiliência em materiais como o aço, por exemplo, a engenharia em todo mundo não poderia construir estruturas de grande porte como edifícios de mais de cem andares nos Estados Unidos ou no Dubai, a torre Eiffel, em Paris ou a belíssima Hercílio Luz, em Florianópolis. Assim também no mundo profissional merecem destaque e consideração as pessoas que têm a capacidade de retornar ao seu equilíbrio laboral após sofrer grandes pressões ou estresse.

Isto já foi largamente explorado por Daniel Goleman nos seus estudos sobre inteligência emocional, ou seja, a capacidade de manter o equilíbrio diante das maiores adversidades e perseverar em seus propósitos.

Ainda mais bem-sucedidas são as pessoas que conseguem tirar lições positivas e construtivas dos estresses sofridos, assim como acabei por me tornar palestrante e professor depois de sentir a humilhação de um desmaio em público. Na época da vergonha que passei aos 14 anos, eu poderia ter desistido, mas voltei a mim mesmo e determinei que falar era um desafio que precisava ser vencido. Fui tão bem, que fui além.

Talvez essa aptidão ou habilidade que muitos desenvolvem seja a vantagem competitiva tão necessária para a construção de carreiras bem-sucedidas.

Notem que eu não falei talento ou valor inato, disse habilidade, que é treinável, o que coloca todo mundo no páreo e nos põe a todos em condições de disputa igualitária. Cada um de nós pode reformular seus conceitos sobre si mesmo, as coisas e o mundo no qual estamos inseridos. Claro, isso vai variar de indivíduo para indivíduo porque demanda vontade de aceitar contrariedades e retirar delas lição e força.

Demanda aceitar que a vida não é exatamente o que queremos que seja. Viver é difícil, temos de nos acostumar a isso, mas é justo essa dificuldade que dá um sabor tão bom às vitórias que alcançamos, seja escalando o Everest ou declamando um simples poema no salão nobre de uma escola pública secundária.

O termo resiliência não era originalmente aplicado às ações humanas, é um termo originado das ciências e, metaforicamente, foi incorporado para explicar atitudes como a que descrevi e que hoje são cobiçadas no mundo corporativo. Resiliente é um termo da física usado para designar a capacidade que determinados materiais têm de voltar à sua forma primitiva depois de expostos a uma tensão.

O cientista inglês Thomas Young foi um dos primeiros a usar o termo, mas, é claro, no sentido técnico. Isto se deu em 1807 quando ele estudava a relação entre a tensão e a deformação de barras metálicas. Para o mundo corporativo, no entanto, o que a ciência chama de tensão, tem o nome de adversidade. Saiba quem você é, do que é capaz e persevere.

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